quarta-feira, 19 de maio de 2010

Finalmente a partida

Naquele mesmo domingo, após acordar numa terrível ressaca, como disse fui para casa correndo e pedir uma carona para ir até a rodoviária comprar minha passagem, mesmo que visivelmente contra sua vontade, meu pai me levou sob o pretexto de levar meu irmão junto para passear, e fomos. Lá aproveitei para recolher informações sobre estacionamento, taxi, tempo de tolerância a atrasos e o telefone da menina que atendia no guichê, pois ela era muito bem apessoada.
Em casa almoçamos em silêncio e depois dele mais uma vez tive que ouvir todas as recomendações de minha mãe em relação à viagem. Mais tarde, ainda sob os protestos e provocações de meu pai, minha irmã e meu cunhado me levaram para a rodoviária e então minha jornada começaria de fato. E obviamente quase todos os passageiros daquele ônibus teriam o mesmo destino que eu, todos jovens alguns vestidos como hippies com cabelo estilo dreads, como o do legendário Bob Marley. Nem precisava dizer que me atrapalhei com o relógio que me forçou a aceitar a ajuda de minha mãe para arrumar as malas, e também nem precisaria dizer que ela colocou quase a casa inteira, e eu estava com sobre peso, mal consegui carregar tudo sozinho, inclusive foi preciso pagar uma taxa extra para o motorista. Foi aquela despedida típica de rodoviária e portos, das pessoas acenando adeus para os viajantes, que sentiam um misto de comoção e vergonha, mas ali tudo valia, todos estavam visivelmente emocionados naquele momento.
Não demorou muito, para que a conversa no ônibus começasse, e o povo a se conhecer, percebi que minha aposta estava certa, a maioria eram estudantes que iam para Viçosa se matricular. Coincidentemente a Brisa (lembra-se? Aquela que chutou minha garrafa d’agua na prova) também estava no ônibus, e mais coincidentemente ainda mo decorrer das conversas descobri que ela seria da mesma turma que eu. E a conversa durou pouco, pois a moça que estava sentada ao meu lado começava a puxar conversa e no balanço do ônibus, o cansaço, e o escuro, fez com que a conversa fosse parando gradativamente até ficar relativamente quieto. E então a moça que sentava do meu lado, voltou a puxar conversa, infelizmente não me lembro do nome dela, mas não dando muita bola, pois queria dormir, estava com bastante sono do dia anterior, em poucos minutos ela me contaria tudo dela. Mas não importava o que ela falasse eu só entendia “blá blá blá”, e eu respondia sempre com um “uhum”.
E quando menos espero a moça me agarrou ali mesmo, não me deixando chance de defesa, pelo menos depois de alguns minutos de beijos mal beijados, ela se aconchegou no meu ombro e adormeceu, e assim permaneceu até a primeira parada.
Na primeira parada, desci, fingi uma azia e comprei um salgadinho de queijo bem fedido para usar como se fosse repelente, e funcionou. O resto da viagem foi muito tranquilo, dormi feito criança, apesar de quase não aguentar meu cheiro de queijo parmesão.
Na postagem anterior eu havia citado na parte final que os amigos que eu tinha entrado em contato não haviam sequer respondido as mensagens, e sabendo disso descendo do ônibus tive uma agradável surpresa, o Tuwile, apesar de não ter combinado e não ter entrado em contato comigo, estava lá me aguardando.
Fiquei muito feliz, surpreso e aliviado, afinal era tudo o que eu precisava no momento, um rosto amigo.
Após os comprimentos ele prendeu sua bicicleta no poste da rodoviária e me ajudou com as malas até a universidade para eu fazer minha matrícula, o ônibus que tinha se atrasado um pouco por causa de uma obra que acontecia na estrada, ocasionou um belo atraso, mas ainda assim nada que impedisse minha matrícula. Fomos a pé e chegamos lá em poucos minutos.
Conversando no caminho, ele me falava da universidade, e quando chegamos nela, fiquei admirado com as proporções do campus e de como era. Sentia-me como se estivesse naqueles filmes norte-americanos nas universidades de lá. Como me surpreendeu, jamais imaginaria que houvesse algo semelhante no Brasil, como isso não era divulgado? E o Tuwile animadamente me apontava os prédios e quais eram os departamentos, e o que faziam em cada um deles.
Deixamos minhas malas na sala do diretório acadêmico da qual ele faz parte, e me dirigi ao lugar onde se realizavam a matrícula, e meio abobalhado fiquei assistindo uma mensagem gravada do reitor falando da universidade, passou no mínimo umas trinta vezes, assisti todas, não me cansava. Ainda estava assombrado.
Pronto, matrícula feita era o momento de resolver como faria com a bolsa, que eu tanto necessitara. Descendo um hall no prédio que acontecia a matrícula, dava acesso a um galpão enorme que continha alguns stands montados com as atrações da universidade e alguns bancos e comerciantes tentando caçar algum calouro ingênuo. No campus tem tudo, não havia necessidade do aluno contratar qualquer tipo de serviço. Um desses stands era o serviço de bolsa, e fui lá ver o que eu precisava fazer para conseguir o que eu precisava. Entregaram-me um formulário de mais ou menos umas quinze páginas, na hora que olhei aquilo, achei que não era possível um questionário socioeconômico daquele tamanho, no mínimo perguntariam as cores das minhas roupas íntimas, só podia. Mas na realidade só faltou isso, tinha que responder sobre tudo na minha vida e quem vivia comigo, tudo, o que fazia deixava de fazer, o que possuía em bens e o que deixava de possuir, e não obstante no final ainda uma redação em aberto para descrever o porquê merecia a bolsa.
Fui almoçar com o Tuwile, pensando naquilo que eu preencheria, outra coisa que me surpreendeu foi o preço do almoço que custava pelo menos três vezes menos do que custaria em São Paulo. Depois do almoço, me apresentou o clube do diretório dos estudantes, o famoso DCE BAR, que de bar não tinha nada, pois bebida alcoólica teoricamente é proibida no campus, mas tinha algumas mesas de sinuca, e os estudantes se reuniam naquele lugar.
Depois do almoço fui entregar o formulário, pretendendo no mesmo dia já usufruir do alojamento que era prometido. Naquele momento começou minha via sacra da bolsa. Fui informado que não era cedido de imediato, nem mesmo o alojamento provisório seria cedido. E dessa forma então eu estava ferrado, como faria? Fui procurar o responsável, e este só sabia dizer “Eu não posso te ajudar” eu argumentava e ele respondia “Mas eu não posso” e ele ficou visivelmente alterado emocionalmente quando perguntei se ele só sabia dizer a mesma coisa, ficou nervoso, bateu na mesa e falou alto som: “Sinto muito, eu não posso!!!”.
Também fiquei muito nervoso e resolvi sair dali, imprimir o e-mail e esfregar na cara daquele homem, que além de dizer somente uma coisa duvidava de minha palavra quando citei sobre o e-mail que tinha mandado antes de ir para lá.
Nesse meio tempo, o Tuwile que não se aguentava de risadas do homem de apenas uma palavra, me levou para um amigo dele que trabalhava no serviço de bolsa, mas que atendia outras coisas, para ver se ele conseguia me dar alguma dica de alguém ou sobre o que fazer.
O conheci, e o rapaz não me deu boas notícias, disse que era assim mesmo, que também era morador de alojamento e que demorava mesmo, e que por enquanto eu deveria me virar, mas ainda assim não deixar de reclamar, segundo ele os segredos eram “persistência e lágrimas”, e que eu deveria falar com outra pessoa, uma tal de Júnia. Fui procurar essa tal mulher no departamento dela, e ela me convenceu do mesmo, não seria uma tarefa fácil.
O que eu faria, nem debaixo de algum viaduto eu poderia ficar, porque a cidade não tem nenhum. Mas o Tuwile salvou o dia mais uma vez, me propôs que eu ficasse na república dele até as coisas darem certo, pois um membro da casa estava viajando a férias, e poderia ficar no quarto dele até eu conseguir acertar as coisas. A casa dele fica do outro lado da cidade, mesmo assim não tão distante, mas se tornou, pois a cada dez passos encontrávamos algum de seus conhecidos para colocar a conversa em dia.
Quando chegamos, eu estava exausto, e ainda em São Paulo, o Porko havia comentado que a república do Tuwile era uma república africana, e naquele momento descobri que se tratava da “A república africana” composta de africanos legítimos e não descendentes como eu pensava, conheci a todos e fui muito bem recebido, o pessoal me tratou com muita fineza. Mas eu só queria saber de um bom banho e um bom cochilo.
Mas naquele dia também chegaria a casa como hóspede outro conhecido do Tuwile, amigo de uma amiga dele que ele nem conhecia direito para fazer matrícula no dia seguinte, mas este nem ficaria muito tempo, uns dois ou três dias, no máximo. Chamava-se de Moita e chegaria ao final da tarde. E a qualquer momento chegaria também outra amiga e sua mãe para a mesma finalidade, se matricular, procurar república.
Tuwile planejou bastante de como acomodaria a todos sem ter que recorrer a sua namorada para hospedar ninguém, no final a amiga e sua mãe acabou não vindo, o que acabou facilitando as coisas um pouco.
A chegada do Moita, não poderia ser menos notável, o rapaz possuía um sotaque bastante estranho tipicamente mineiro (se bem que se formos parar pra pensar eu era o viajante, logo quem tinha sotaque era eu), com o cabelo armado o suficiente para fazer jus ao seu apelido, alto e magro, chegou na casa com o mesmo desejo que eu, tomar um banho para espantar o cansaço. O fez e para que depois fossemos num barzinho tomar uma cervejinha, para conhecer a nigth viçosence (haha), mas assim que ele saiu, deu por falta de sua carteira, e no meio de malas procurava, procurou nas minhas pelo chão e no caminho, não se conformava, e acreditava ter perdido ou ter sido roubado, lamentava bastante, até que resolveu ligar pra sua casa e fazendo isso recebeu uma bronca e ouviu um sermão de sua mãe por ter viajado sem carteira. “Como pode menino!?” Sua mãe previsivelmente dizia por telefone e ele tentava se explicar.
Logo após fomos conhecer a noite viçosense, e para uma segunda-feira até que gostei da movimentação da cidade, mas o que eu não sabia que praticamente todos os dias eram daquele jeito.
Mas isso vai ter que ficar pra depois.
Chega por hoje né amigos, depois continuamos, tem muito mais.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Véspera da partida

Na postagem anterior falei de coisas relevantes para o entendimento de algumas passagens que veremos mais pra frente, e hoje tratarei de falar do que houve no dia da minha partida e como foi a minha chegada. Se você leu a postagem “A chegada” já está ciente também de como estava o clima na semana do final de janeiro.
Vale dizer que não fiz festa de despedida, mas se eu organizasse certamente seria uma festa de arromba, é importante dizer que eu também tinha certa esperança de ser chamado como excedente na chamada da FUVEST (vestibular da USP), prova que eu acreditaria ter ido razoavelmente bem, coisa que não passou da pretensão do que eu acreditava. O que me faltava mesmo para decidir definitivamente o que faria era a lista da USP, que saiu numa quarta-feira e a matricula da UFV seria na segunda-feira próxima, então mesmo que eu pretendesse preparar algo não daria tempo. Como você deve ter pressuposto na quarta-feira eu não estava na lista da FUVEST, então eu teria daquele dia até sábado à noite para me decidir.
Passei nesses dias jogando pôquer e RPG com meus amigos, e comentei com eles o que faria, não me levaram muito a sério. Passou a semana e no sábado a tarde aconteceu aquelas coisas que não tem como deixar de lembrar (ok, nos esforçamos em esquecer) e rir. Começou com a vontade súbita de jogar um pouco de basquete. Mandamos mensagem de texto para os amigos que costumam jogar, e conseguimos marcar para passar a tarde num parque novo que estreara à margem do rio Tietê. Não depositei fé em esperar uma boa qualidade do parque, afinal o rio Tietê, como sabemos é um dos mais poluídos do continente, esperava fortes odores desagradáveis, buzinações de motoristas estressados na famosa via expressa que cortava o local, e caminhões de mais de duas décadas de uso soltando aquela fumaceira de arder os olhos. E então me surpreendi, e finalmente a caminhada ao sol de mais de trinta graus valeu a pena, chegando a um parque que era conservado pela empresa que cuida do saneamento básico da região metropolitana, muito verde, quadras limpas e novas, com um público agradável, e um grande muro vivo e verde separando o cinza da cidade com aquele parque edênico quase que inacreditável. E o sol, tudo estava indo bem, e a única coisa que realmente incomodava era o fato de ter que voltar caminhando naquele sol novamente após um exaustivo esforço físico, e não mais que de repente Zunto estaciona o carro em frente a quadra. Paramos o jogo para cumprimenta-lo e nos refrescar, quando percebemos mais um empecilho, não havia água potável no parque! E nem mesmo a miragem de uma bela garota com uma mini-micro-tamanho pp jogando tênis foi capaz de substituir a necessidade por hidratação. É meio que óbvio dizer que o jogo não durou muito tempo, e o motim foi a formação de nuvens chuvosas acompanhada com a típica garoa paulista que nos fizeram correr para o carro em direção ao supermercado mais próximo. E em alguns poucos minutos estávamos na fila do mercado tomando cerveja importada na fila do caixa para pagar as duas garrafas de refrigerante. E lá mesmo no estacionamento do supermercado, tomávamos aquele refrigerante que parecia delicioso por causa da sede que nos matava.
Pude então perceber em breve momento como minha vida era ao redor de meus amigos, boas risadas ao avaliar as moças que passavam em frente à nossa roda, às piadas que só tinha graça naquela ocasião, e os assuntos que certamente não nos levaria a lugar algum, mas que nos preenchia no sentido de companhia, aquilo sim é amizade.
Na volta, Zunto ligou o som do carro em volume bastante alto, e deixou por nossa conta decidir o caminho.
Triste decisão.
Primeiro decidimos deixar o Salamon, depois o Moreno (este se apertava em pressa para usar o banheiro)depois o Paco na casa de seu avô e depois a mim, que morava mais próximo a ele. E já no caminho da casa do Salamon aconteceu a primeira presepada, na qual decidimos ir por um caminho improvável, que não conhecíamos, e nisso acabou atrasando em algumas horas o trajeto de casa. Um detalhe notável, vale dizer, foi que eu sugerí o caminho, mas que a culpa caiu inteiramente sobre o Salamon, pois este deveria saber que o caminho que fizemos jamais chegaríamos na casa dele, tendo que nós refazer boa parte do trajeto de volta, para acertar o caminho. E enquanto isso, no lado de fora do carro, a chuva caía na cidade, e isso nos forçava a ficar com os vidros fechados, e não obstante de ter de suporar o cheiro de outros quatro homens suados, tínhamos que suportar também o cheiro de algumas flatulências do Moreno, que a cada lance levava tapadelas na cabeça, e se defendia dizendo estar apertado. Com o caminho certo, foi muito rápido deixa-los em suas respectivas casas, sobrando enfim, Zunto, Paco e eu no carro, e viemos essa parte do caminho cantando junto ao som do carro, músicas pervertidas da banda Velhas Virgens, até finalmente poder descansar em minha casa.
Mais a noitinha teve uma festa de aniversário da cunhada de minha irmã e mais a noite passei na casa do Porko. Onde ele, Zunto e ficamos até de madrugada assistindo reprises de algumas lutas de vale tudo comendo pizza e tomando uma boa cerveja com meus amigos. Dormi no sofá acordando somente um pouco antes da hora do almoço no domingo, e fui correndo comprar minha passagem, e preparar as coisas.
Na próxima postagem, vou contar e lamentar como e porque deixei minha mãe me ajudar a montar a bagagem, e era tarde a hora que descobri, ao carregar e pagar o excesso de bagagem referente ao peso. Certamente ela não se daria bem numa atividade de sobrevivência na selva, qual se deve levar estritamente o necessário, ou ela não entendeu, ou não fui suficientemente claro ao pedir ajuda.
Boa semana a todos.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Antes do começo

Olá queridos leitores! Depois de algumas manifestações do primeiro texto, que desencadearam mudanças significativas na minha vida, como por exemplo, minha mãe que declarou-me jamais comprar-me cuecas novamente, por exemplo. Tentarei policiar-me para não correr o risco de perder certas regalias, como no exemplo de minha mãe, eu não pretendia deixar de ganhar presentes de primeiro de abril, mas sim que eles não fossem marcados, simplesmente, mas que ainda assim não desejo mudanças determinadas pelo que escrevo nesse espaço. Veja bem leitor, aqui escrevo crônicas, nem tudo que você lerá serão casos fatídicos, e não cabe a mim, descrever quais são condizentes com a realidade e quais não. Mas de toda forma, agradeço todas as críticas que recebi, tanto por aqui, tanto pessoalmente, esses pequenos gestos acabam por me incentivar a continuar esse projeto. Mas ainda assim, peço desculpas prévias se alguém não gostar do que ler aqui.

Bom, vamos deixar de lado um pouco os comentários da postagem anterior e vou me atentar a falar do tema de hoje, que são os acontecimentos antes de minha chegada aqui em Viçosa, a cidade onde eu estudo. Só para fazer um certo “flash back”, eu me chamo Everton, e aqui contarei algumas coisas do cotidiano da vida de um estudante universitário, que abandonou sua familia em sua cidade natal para tentar atribuir-se um futuro mais justo, ou digno, ou confortável, ah, chame-o como quiser.

Antes disso, eu, numa das minhas profissões frustradas, fui bancário por uma certa quantidade de anos, e junto tentei conciliar a administração de uma loja, em ambos obtive uma certa experiência mas nada que contribua relevantemente na decadência nessa passagem profissional, percebi que trabalhar não daria futuro, e que vadear também não(o que é uma pena) mas que estudos sim, pois me concederia o poder da escolha de uma vida diferente. E então, mesmo que tardiamente resolvi retomar meus estudos que estavam estacionados há alguns anos. Confesso que me surpreendi, achando que era fácil, mas não foi, eu tinha conseguido juntar uma certa quantidade de dinheiro, que pretendia me manter estudando.

A volta foi no mês de agosto, qual ingressei num desses cursinhos pré-vestibular para revisar aquilo tinha estudado na escola. O problema reside no fato de minha educação escolar ser oriunda de colégios públicos, que infelizmente a qualidade de ensino, não é exemplo em lugar algum nesse planeta e em outros também. E nisso eu acabei por deparar-me sob um dilema, relembrar o que eu nem poderia lembrar, ou então tentar aproveitar aquele boteco próximo ao cursinho que freqüentavam todas as meninas sapecas recém saídas de suas puberdade.

Problema facilmente resolvido, obviamente resolvi vadear no boteco e levar o estudo como segundo plano. Não preciso ir muito longe ou contar como foram as farras naquele dia, porque em grande maioria delas eu não me lembro mesmo, maldito álcool. Mas pelo menos aprendi algumas piadas nerds, como aquela charada do carbono que foi preso, e o que ele teria dito? “que tinha direito a quatro ligações”. Tampouco preciso dizer-lhes que não obtive sucesso naquele ano.
Mas uma coisa era importante, eu havia feito muitas provas de vestibular, e isso me deu a noção daquilo que seria exigido e o que então eu deveria estudar. Minha sorte é que sempre tive facilidade nos estudos, exceto naquilo que estava dentro do campo das exatas. E pera lá, com três meses de cursinho mal cursados eu havia chegado relativamente longe, e eu sabia que não teria sido sorte, porque as coisas que sabia eu realmente sabia e as que eu não sabia, eu sabia que não sabia (confuso não é?). Portanto eu somente teria que refazer um cursinho no modo intensivo, reforçando aquilo que eu não sabia, estudar poucas horas por dia e thararam eu entraria na desejada universidade.

Ah, só me esqueci de um mero detalhe, lembra-se daquele dinheiro que eu disse que havia guardado? Pois então, eu também não me lembrei, gastei tudo, até o último centavo, com festas, festas e um pouquinho mais de festas. E no final, eu que havia prestado provas para cinco universidades diferentes, só havia passado em três, coincidentemente em nenhuma das minhas duas preferências, uma delas do curso no campo de tecnologia, justamente o que eu queria abandonar como profissão, mas era na minha cidade (São Paulo). Outra já era na área que eu desejava migrar, mas com o campus distante de minha residência. Poxa eu estava querendo mudar para melhor, e enfrentar quatro horas diárias divididas duas à duas somente no trajeto da universidade não me era confortante, o que me levou a considerar a terceira opção daquelas que tinha sido aprovado que era uma universidade federal no interior de Minas Gerais, onde se encontra a famosíssima Universidade Federal de Viçosa (??). Ok, eu relevo o termo “famosíssima” eu só prestei porque o cursinho indicou como uma boa instituição e fácil de passar. Mas o que interessa era que o curso me agradava demais, o curso de Ciências Sociais.

Contando um pouco como foi o teste, que não foi muito confortante pois foi uma das piores provas que eu redigi, que comprovaria o fato de realmente ser fácil de passar. A prova era dividida em dois dias, tristemente nos dias 28 e 29 de dezembro, após o feriado de natal. No dia da primeira prova de vestibular ter ido de ressaca, acolá, francamente, quem foi o cretino que resolveu marcar uma prova numa data dessas? Era segunda-feira e terça-feira pós feriado prolongado!
Mas ainda pior foi o segundo dia de prova, além de ter ido diretamente de uma noitada de jogatina com meus amigos nerds, hum, sim eu sou nerd :(, tive uma crise de rinite espirrando sem parar durante a prova tendo a leve impressão que incomodava meus concorrentes, só tive a certeza disso depois que o fiscal me perguntou se eu queria sair da sala dar um tempo. Coincidentemente havia outra pessoa aparentemente no mesmo estado que eu que, conheci, mesmo que sem querer essa figura exótica, que veria bastante em Viçosa, que é a Brisa, como aqui chamamos carinhosamente a Isabela. Bastando estar morrendo sufocado e de sono naquela prova, ela ainda chutou minha garrafa de água que levava para fazer as provas, e então além de tudo já era minha preciosa agua limpinha vinda de casa.

Foi certamente a pior prova que eu fiz na vida, eu nem conseguia ler as questões com atenção que necessitava, nem muito menos raciocinar no tempo previsto as respostas. Pior ainda foi minha redação que parecia uma coxa de retalhos, não pela gama de argumentos, longe disso mas sim pela quantidade de rabiscos que serviam para desconsiderar certas partes do texto que havia errado. Ainda assim consegui passar no curso escolhido vergonhosamente em quadragésimo terceiro, porém na primeira lista e que não se ofendam os que passaram em chamadas posteriores. Mas que convenhamos, o curso era pouco concorrido, cerca de quatro candidatos por vaga, sinceramente não sei se eu não tivesse passado na primeira chamada eu me sentiria tão digno de ocupar a vaga do curso, não que a dignidade seja uma coisa que seja levada a sério hoje em dia. De fato, percebo que boa parte da minha atual turma são pessoas de geração mais nova que eu e muito deles pensam diferente de mim, mas sinceramente não ligo.
Mas voltando a falar no assunto, havia mais um empecilho: Viçosa estava há mais de doze horas de viagem de minha cidade, eu não conhecia ninguém o suficientemente bem para que me apoiasse de maneira que eu pudesse ter uma certa comodidade para resolver se era aquilo mesmo que me reservava em meus sonhos, nem muito menos teria aquele conforto do dinheiro guardado, visto que não existia mais (malditas farras).

Eu adiava a solução do problema, e com isso os problemas aumentavam. E a situação financeira apertava mais ainda. E depois algumas tentativas falhas de conseguir um dinheirinho fácil de final de ano, resolvi acessar o site da universidade de Viçosa, e um artigo muito vistoso em destaque me encheu meus olhos inocentes de esperança, era como um daqueles anúncios de produtos milagrosos que são vendidos pela tv, dizia algo como “Estudante, você que está com dificuldades financeiras para se manter na universidade, a UFV entende e te ajuda nesse problema”. Isso bastava para mim, estava decidido, mas para ter certeza do que faria ainda assim resolvi mandar um e-mail para a pessoa responsável para perguntar se havia algum tipo de alojamento provisório até eu conseguir me estabelecer na cidade, a resposta foi positiva, e então ficou decidido.

E meio a festas e meios a nerds, consegui vender algumas dezenas de cartas colecionáveis de RPG e vender minha estimada bicicleta, minha companheira (escorreu uma lágrima aqui), consegui juntar um valor relativamente baixo, mas o suficiente para apostar no destino.
Lembrei-me então que havia um amigo que jogava basquete conosco estudava na universidade, o Tuwile, sim, o nome é diferente e segundo ele quer dizer “o inevitável” em alguma língua aleatória, pensei que ele pudesse então me dar uma força apresentando a cidade e me acompanhando nas coisas que eu deveria fazer logo de cara para conseguir o alojamento e etc. E soube também por meu cunhado que um outro amigo em comum que tinha estudado com ele na mesma escola também estava na UFV. Poxa, melhor ainda, o caminho se abria, as coisas se clareavam, mas no fim nenhum dos dois responderam minhas mensagens, mas ainda assim resolvi partir em meios de protestos da familia amigos (alguns apoiaram).

Bom, por hoje chega, sei que essa postagem foi extensa e talvez desinteressante, mas considero ser importante para o entendimento de algumas passagens cômicas que virão a partir do momento que cheguei em Viçosa.

Até amanhã, ou não.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Sem cuecas

Olá, meu nome é Everton Ferreira, sou estudante, e a partir de agora vou contar a odisseia que está sendo o ingresso na universidade, ambiente que, para mim, está revolucionando minha vida e está gerando inúmeras histórias ao mesmo tempo bizarras, cômicas, completamente inusitadas.

Semana passada, eu fiz minha primeira visita na minha cidade natal, pois fora feriado de páscoa, e ao tentar contar as histórias das minhas situações em Viçosa percebi que seria frustante, pois eu tinha muita coisa pra contar em pouco tempo. Então me motivei a escrever aqui, no momento que em mais uma passagem, fiquei sem cuecas.

Como? Isso mesmo, fiquei sem cuecas.

Bom, vou elucidar melhor essa história para vocês não fazerem mal juizo de mim, ou entender por outro lado. Enfim, eu como a maioria dos estudantes moro em república, mais especificamente no alojamento da própria universidade. As dificuldades são de grande número, e não passamos dessa etapa da vida sem boas crônicas pra contar, e uma delas surgiu em quanto eu realizava uma tarefa árdua: Lavar roupa.

Bom, como disse eu fui visitar minha família em São Paulo, e levei algumas roupas, antes de ir providenciei algumas coisas para decidir, e inclusive pedi para minha mãe, comprar para mim, algumas cuecas e meias. Pois como você verá nesse blog, os estudantes são uma espécie de pedintes, quais somos obrigados a clamar misericordiamente por ajuda. Por e-mail recebi a notícia que haviam comprado pra mim algumas cuecas do tipo box, que são bastante confortáveis. A notícia me deixou aliviado, pois eu possuia poucas, e isso me aliviaria um bocado entre as escalas de lavagem de roupa.

Fui de excursão com a universidade para economizar algumas dezenas de reais, e o final de semana prolongado foi muito agitado, pois tinha que visitar tanta gente, correr atrás de pessoas que haviam comprado presentes para mim, e de presentear as pessoas que eu havia comprado presentes. Mal deu para curtir a familia, que apesar de preocupada e coruja, me faz passar mal bocados, mas eu relevei acreditei no espírito da páscoa.

Na volta para viçosa a viagem foi cansativa e acabei perdendo o dia, com a preocupação de uma avaliação que aconteceria mais tarde.

E inevitavelmente chegaria a hora inescrupulosa de lavar roupa.

Lá na república, dividimos os dias das pessoas lavarem suas roupas, e o meu numa terça-feira, não podia ser em dia pior, pois agora acumulei muitas tarefas e passo apertado para lavar minhas roupas com tranquilidade. De contra-gosto, acabei por faltar na minha atividade de bolsa que garante minha alimentação no campus, em troca de alguns momentos de trabalhos simples, como de auxilio nos departamentos.

Almocei sofridamente, pois desde cedo preparava meu pâncreas para suportar aquela atividade que eu citei tantas vezes aqui. E chegada a hora, peguei minha roupa suja, separada (diga-se de passagem, não sei porque separo, visto que jogo tudo dentro da máquina de lavar e depois me mato para tirar o sabão) e fui encher a máquina de lavar de água. Colocando as peças de roupas dentro da máquina, me recordei de uma antiga mania de minha mãe de marcar minhas cuecas com um visível T, que muito me constrangia, mas que quando eu morava com meu irmão, que tem um porte físico parecido com o meu, eu entendia, pois as peças de roupa semelhantes poderiam se misturar.

Mas poxa, porque as minhas, porque não marcar as deles, e isso me remoia, e eu, revoltado por ter que lavar minhas roupas, revoltado por ter que inventar boas desculpas para meu monitor de bolsa para a falta, comecei a me revoltar mais ainda, quando me gelei.

Será que minha mãe havia marcado as cuecas novas? Eu não queria mais pensar no assunto, com medo de que ela houvesse marcado. Mas se ela tivesse marcado, como seria? Seria no canto, ou seria bem no meio, como na camisa do Super Man? para meu penis ficar como se fosse o "Super T", e mesmo não querendo acreditar no que eu pudesse sofrer com isso, me arrastando psicológicamente fui até o quarto, peguei as malas ainda não desfeitas e fui olhar as benditas cuecas.

Quando eu ví, eu quis soltar uma bomba no prédio, aquilo me enchia de ódio, um T como nunca havia visto estava estampado em todas minhas cuecas, como se fosse uma marca padrão. Mas porque ela havia marcado, se não lavava mais as roupas com meu irmão, porque ela havia feito isso, e eu me perguntava isso sem parar. E imaginando em situações que eu tivesse que responder perguntas para as garotas enquanto eu me despia "amorzinho, o que é esse T no meio da sua cueca?". Cada vez mais a idéia da bomba me parecia útil, quando foi que me lembrei que não possuia explosivos, nem dinheiro para comprá-los, tão pouco eu sobesse onde os vendiam.

Pensei então atear fogo nas próprias cuecas, mas se o vizinho visse a fumaça e chamasse os bombeiros, como eu iria explicar o motivo de atear fogo contra minhas próprias cuecas, pensei então em eliminar a possibilidade de usar fogo.

E passei por continuar a surrando as outras roupas que deveria lavar, enquanto pensava numa solução para esse horripilante problema, o pior não era ela ter marcado todas as cuecas, e sim da maneira como as marcou, com tinta de pano e pincel, e pensando em outras coisas numa tentativa de aliviar a tensão, lembrei-me das minhas atividades da casa, qual naquele dia eu deveria por o lixo para fora, sem exitar, naquele momento, peguei todas as cuecas, enfiei em sacolas de lixo, as amarrei, e fui por o lixo para fora enquanto a maquina batia minha roupa.

Para a minha sorte, o caminhão de lixo passava naquele momento, e dessa forma eu me livraria daquelas peças de vestuário mais rápido do que eu imaginava, e minha vida de gado marcado, estariam no fim. Nunca atirei uma sacola no caminhão do lixeiro com tanta vontade com que atirei, que alivio, missão cumprida, eu estava livre daquelas cuecas assassinas. ADEUS!

E no fim, agora com as partes íntimas mais livres, agora me conformo aliviado, sabendo que demorará o dia que terei novas cuecas, pois apesar de trabalhar, trabalho pouco e consequentemente recebo pouco também, maneira que me permita sem mais prejuizos comprar uma ou duas cuecas por mês.

Até lá serei um descuecado, um sem cueca, porém feliz. E muito feliz!

Até a próxima história.